Sobre
conquistar a Lua
Primeiro
de tudo é importante frisar que este livro é um livro pra crianças, de faixa
etária que não passa dos 12 anos. Sei que é algo meio fora do que estamos
acostumados a ler ou a comentar, mas acredito que a literatura infantil brasileira
tem tanta coisa boa a oferecer que não pode ser ignorada. Especialmente pelos
adultos, que irão formar nossas crianças também escolhendo o que elas vão ler.
O livro
é metafórico do início ao fim. Genial em alguns aspectos. Que traz desde
informações óbvias, que qualquer criança captará, até comentários e piadas mais
complexas, que exigem, portanto, um acompanhamento adulto – de professor ou de
família – para que o livro possa ser apreendido como um todo, sem deixar
escapar nenhum dos seus maravilhosos detalhes. Por exemplo, um dos focos do
enredo é a história de amor entre Luna Clara e Apolo Onze, personagens que dão
título ao romance. Os nomes das personagens, não só dessas como de TODAS no
livro, são metafóricos, ou seja, referem-se não só àqueles seres, mas a
informações maiores. No caso de Luna e Apolo, não vemos apenas como um garoto
de 13 anos consegue conquistar uma menina, mas como os grandes amores - regados
a muita determinação, falhas, desencontros, medo e, finalmente, sucesso - nos
levam a grandes conquistas, talvez como a da Lua, feita pela expedição Apolo
Onze.
Obviamente
a linguagem é óbvia, porque é óbvio que é assim que se fala com criança. O quê?
Você está bem, Nathália? Estou sim. A linguagem pode ser óbvia, mas não deixa
de ser rica e trabalhada, usando tudo quanto existe de figuras de linguagem,
como o pleonasmo, exemplificado pela minha frase acima, que brota no livro nos
momentos exatos, criando a atmosfera de humor e crítica que o permeia todo. O
trabalho artístico foi bonito demais, pois mistura sim a linguagem acessível,
com a complexidade de uma literatura de qualidade e de um enredo incrivelmente
arquitetado. Em “Luna Clara & Apolo Onze” você descobre a multiplicidade de
clímax, alinearidade narrativa, ironia, crítica social, regras de pontuação,
história do mundo, de bandas e de livros, intertextualidade, figuras de
linguagem e outros múltiplos aprendizados que são incorporados a uma história
complicada de bonita.
Há sim
algumas coisas que mudaria, infelizmente. A edição é linda, mas as ilustrações
são óbvias demais, que interrompem a imaginação da criança. E o enredo tende
muito mais a agradar às meninas, pelo foco central da história ser a busca de
um amor - pelo pai e pelo marido – e não nas aventuras do percurso. Mas ainda
sim o livro é uma graça.
Não há
como não se apaixonar por uma personagem como Aventura, que pelo nome já veio
desgraçada a viver perigosamente, sempre no meio de suas irmãs conflitantes:
Divina – que só ri – e Odisséia – que só chora. A garota que logo vira mulher e
mãe se apaixona por Doravante, o homem que escolheu amar daquele dia em diante,
que fala rápido porque tem pressa de ser feliz, mas que logo perde sua sorte
tentando provar seu amor, e que ganha por consolação uma nuvem de chuva
constante sobre sua cabeça, que o segue por todos os lugares, amaldiçoando-o,
mas se tornando também o único modo de sua filha achá-lo. Ai... é lindo...
inteligente...
E como
Ziraldo mesmo disse na apresentação do livro, dá uma certa invejinha por não
ter sido eu a escrevê-lo. Estou feliz pelas crianças que lerão este livro.
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