segunda-feira, 20 de abril de 2015


Como falar sobre seu livro favorito?

            Acho que esta é uma tarefa impossível. Óbvio que uma resenha sempre é crítica, mas aqui vai entrar muito mais a emoção do que o olhar racional em si.
Meu primeiro contato com o Gabo foi através de “Cem anos de solidão”, emprestado de uma amiga durante a faculdade. Confesso que entendi pouco, mas mesmo assim me apaixonei pelo modo de escrever daquele autor tão... diferente. Alguns meses depois, vendo TV, me deparei com o filme “O amor nos tempos do cólera”, já começado, mas mesmo assim parei para assistir por ser uma obra desse grade autor que não havia ainda compreendido. Amei o filme, a despeito dos muitos que o odiaram.
Na mesma semana cacei o livro na biblioteca. Não havia. Em espanhol eu não lia. Tive que comprá-lo. E eu o li, freneticamente, por uma semana. Sem parar. Mas assim que as últimas páginas foram se aproximando, fui economizando o livro, enrolando para lê-lo, com medo de me despedir. Quando o fiz, chorei. Chorei rios, litros, poças, teria resolvido o problema da Cantareira em 5 minutos. Minha mãe se assustou e veio me perguntar o que estava errado e eu só consegui dizer: “Estou triste porque nunca mais vou ler nada tão bom quanto isso.”. Minha vida literária havia acabado. Fiquei uns 15 dias sem conseguir tocar em outro livro, fato muito difícil para uma rata de biblioteca desde a infância.
Aí você já imagina o que foi este livro para mim. A história de amor pareceu linda. Desesperada e perfeita. O casamento nunca havia sido retratado de maneira tão realista e pura. O sexo desproposital não enojou. E corpos boiando no rio enquanto um casal se declarava amorosamente no convés pareceu normal. Olha o que um livro faz com a gente.
Mas aí veio a obrigação da releitura. Detesto reler livros por medo de estragá-los, porque eu acredito que a leitura não é composta apenas por aquilo que está escrito, mas pelo estado de espírito, local em que ela acontece. Agora eu tinha que fazer um trabalho da faculdade sobre ele, com propósitos críticos e relacionados à obrigação de passar de semestre. Pronto. Metade do livro morreu pra mim. A leitura não foi agradável, cheia de amor, surpresas. A dedicação era obrigação. Mas a experiência não foi de todo ruim. Percebi como amadurecemos ao longo dos anos. 5 anos depois da primeira leitura, odiei Florentino Ariza, que me pareceu um louco exagerado e não mais um eterno e genuíno romântico. O casamento de Fermina e Juvenal soou mais cadenciado, teve mais sentido e confesso que torci por eles. A mulher se tornou minha heroína, mesmo com todo seu egoísmo e intransigência. E por isso tive medo. A guerra ao redor deles me incomodou mais do que a história de amor. Consegui achar Macondo em várias ruas desta cidade tão diferente. E o cólera... se misturou ao amor das personagens, à minha raiva da releitura, ao desapontamento dos nossos governos que continuam tão despreparados.
A história? Não mudou. E não importa. Mas as descrições... !!! ... ai... O modo de contar a história, ir e voltar no tempo, seguir um fluxo de pensamento improvável pro momento. Tudo isso é que interessa. O amor idoso. A crítica social. O humor/amor por aquela sociedade tão nossa e tão primitiva. O desejo que construir uma América tão abandonada e tão distante é que me fizeram ainda amar o livro e o autor.

Mas confesso que continuo não adepta às releituras.
Escrito por Unknown Data: 4/20/2015 11:47:00 AM 2 comentários LEIA TODO O TEXTO!

Entrando no mundo dos quadrinhos

            Há mais ou menos umas três semanas, postei um vídeo no Youtube pedindo ajuda para começar a ler quadrinhos. Dentre as muitas indicações, uma das que mais se destacou foi “Persépolis”, HQ em formato de autobiografia composta por uma iraniana sobre suas experiências com os golpes fundamentalistas e repressivos em questão de religião e liberdade de expressão.
            Muito desse tema tem se discutido na mídia, nas escolas e não poderia fugir a literatura. Mas o que esse quadrinho tem de novo é a personagem e a visão que esta dá aos fatos. Primeiro, ela não deixa de contar de sua vida, infância, adolescência, descoberta sexual e amorosa, conflitos familiares, padrões de beleza que são extras, porém também incorporados ao sistema governamental que ela tanto critica. Gostei dessa visão tão humana, tão próxima de nós a um assunto, para os brasileiros, ainda tão distante. Marj não deixa que as guerras separatistas, as bombas e o fundamentalismo ofusquem seus dramas internos e comuns a qualquer garota. Eles apenas se misturam, intensificando seus problemas.
            E aí entra o segundo ponto interessante do livro, muitos dos problemas pelos quais a personagem passa são causados por ela mesma. Ela não é a vítima martirizada, total. Ela é uma garota que comete erros ao tentar se descobrir. E paga pelas consequências deles. Chega daquele maniqueísmo tão comum dos livros que retratam cenas de grande opressão, como o Holocausto, Revolução Russa ou Cubana, Ditaduras no geral. Temos uma visão sim de alguém oprimido, mas que não é mártir, apenas uma pessoa normal.
            Porém aí preciso fazer uma crítica. Marj é normal, mas nem tanto. Ela é bisneta do antigo imperador. Seu pai é engenheiro. Eles têm dinheiro. E só por isso ela conseguiu sobreviver, ir morar em Viena quando a opressão ficou pesada demais, não foi presa e torturada diversas vezes. E nada disso foi abordado no livro. Soou um tanto hipócrita sua opressão, seus gritos contra o fundamentalismo e sua falta de medo perante os ditadores porque esta sempre tinha um meio de fuga. Pais que pagavam para tirá-la do país, pais que pagavam para tirá-la da cadeia. Pais que pagavam a maconha que ela fumava para se desligar dos problemas pessoais por que passava em Viena (!). Confesso que isso me incomodou. Mas acho que essa é uma das poucas visões oprimidas a que teremos acesso, porque os reais sucumbidos nunca conseguirão se exprimir, por falta de oportunidades, que a Marj teve.
            Adorei o fato das ilustrações serem em preto e branco, quase que refletindo a incapacidade de Marj se encontrar e se achar no mundo. Ela não sabia que profissão seguir, o que estudar, como fazer amigos, acreditar ou não na mídia, como amar. Nem mesmo ela conseguia entender quem era: uma iraniana em Viena, ou a ocidentalizada no Irã. Tudo era confuso, sem cores, amargo. Gostei também dos traços simplistas, não reprimindo, portanto, a criatividade do leitor de preencher os espações e descrições latentes que não eram amplamente representadas nos quadrinhos.

            No geral, gostei muito do livro. Mas ainda prefiro o olhar de “Maus”, por exemplo, muito mais pesado, cruel, sobre perseguições ou catástrofes. Ou o olhar da trilogia “Princesa” sobre a perseguição religiosa sobre a mulher, que também é contata por alguém da elite, mas que se dá ao luxo de analisar com muita humildade esse aspecto.
Escrito por Unknown Data: 4/20/2015 11:26:00 AM Comente! LEIA TODO O TEXTO!
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