Tudo
junto e misturado
“Lua de larvas”
para mim foi uma mistura de todas as distopias que já li ou que conheço por
osmose – “Admirável Mundo Novo”, “1984”, “Jogos Vorazes”, “Divergente”
e companhia. Seguiu meio que aquela receita de vó que pega tudo o que tem na
geladeira, mistura numa frigideira e faz um super omelete que quase tem vida
própria.
Estamos em 1956, ano em que o homem supostamente pisou na
lua. E é justamente sobre o termo “supostamente” que este romance quer tratar. Acompanhamos
alguns dias na vida de um adolescente de 15 anos, num mundo destruído pelas
guerras, sob um regime totalitário, abusivo, violento e pouco educativo. Apesar
dessas estranhezas que são o que realmente prendem a atenção do leitor que
gosta de fantasia, o que repercute no livro mesmo são as características da
sociedade de hoje que sobreviveram ao massacre descrito no livro. Conflitos familiares,
amor senil, bullying, homossexualismo, corrupção são os temas que imperam no
livro, como que para mostrar que mudem os tempos, mudem os meios, o ser humano
está fadado a resolver seus conflitos interno custe o que custar.
É interessante ir descobrindo o ambiente pouco a pouco,
conforme a personagem, que é bastante alienada quanto ao seu entorno, contexto
político e sobre sua própria vida familiar, também o vai descobrindo. Tudo parece
meio confuso no início, mas tudo vai se ajeitando e fazendo sentido ao longo da
escrita. Não que a situação da personagem vá ficando melhor, mas o leitor vai
se aconchegando à história e fazendo mais parte dela.
As cenas escolares para mim são as que mais me marcaram,
talvez por ser professora e viver nesse meio todo santo dia. Mas a violência
corre solta ali. Num ambiente que deveria ser de compreensão e acolhimento, as
mais ultrajantes atitudes de repressão, deseducação e manipulação ocorrem.
Do que não gostei foi do tom a la mal-do-século romântico que o livro nas páginas finais. Mas ainda
assim fez sentido para o extremo final (última página) escolhido pela autora.
Mas as ilustrações bastante significativas, metonímicas e
sarcásticas é que ganham o leitor. Eu, por exemplo, li desenfreadamente 190
páginas quase que sem parar só para poder saber como o desenho iria se
desenrolar na página seguinte.
O livro é um bom primeiro passo para quem quer se aventurar
num mundo distópico.
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