Coisas
demais e espaço de menos
Essa foi a sensação ao ler “Areia nos dentes”. O livro
tem 110 páginas e se predispões a falar de tanta coisa em formatos inusitados
que, quando cheguei ao final do romance, senti que algumas coisas foram
superficiais demais, pouco exploradas, ou que não tiveram a conclusão merecida.
Fiquei sabendo do livro por indicação de um vlog que sigo
e decidi comprar o livro. Me arrependi logo nos primeiros capítulos. Entendi que
o objetivo do escritor era acabar com os padrões de leitura homogênea, linear. Para
isso, ele fez uso de metalinguagem, diagramação inovadora etc. Senti que
entendi a piada no final, mas que achei que ela poderia ter sido contada de
forma melhor.
A apresentação é do Daniel Galera, um autor de quem gosto
muito, e que logo nos surpreende dizendo que o livro é de um brasileiro,
contando uma história de faroeste mexicano, com zumbis. Sério. Zumbis. Apesar de
ambientação ser típica de faroeste, pouco de ação, confronto e tiros realmente
acontecem. Os zumbis demoram muito para aparecer, não têm conclusão para suas
ações e pouca descrição sobre suas fisionomias. O livro acaba sendo, na
verdade, um drama familiar, que aparenta ser muito complexo, mas que não foi
plenamente desenvolvido pelo número de páginas disponíveis.
Esse drama se assemelha muito com “Cem anos de solidão” pelos personagens terem o mesmo nome nas
diversas gerações familiares e por deus destinos e maldições se repetirem. Mas nada
parece que vai pra frente, porque o autor quebra o sentimentalismo e reflexão
das personagens com discussões metalinguísticas.
A diagramação foi aquilo que realmente para mim teve
saldo positivo, pois é inesperada, inovadora, engraçada e útil. Vale a pena por
isso. Mas toda a história promissora que um título tão forte quanto esse
prometia não foi bem pensada, na minha humilde opinião.
Não gostei das personagens, de suas ações, de seus
desejos. Tudo estava ou claro demais, óbvio - pela construção ou porque o
narrador não se continha e expunha todo o mistério -, ou a trama não explicava
nada, e muita coisa que ficasse para o intelecto do leitor.
O que ficou do livro pra mim? A mensagem de que os mortos
nunca realmente morrem. Os zumbis são mera metáfora personificada de que a
memória daqueles que se foram nunca realmente se dissipa. Independente da
quantidade de areia que se jogue por cima deles.
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