Definitivamente
este não é meu escritor. Markus Zusak já me deu muito trabalho para ler “A
menina que roubava livros”, narrativa que me atraiu simplesmente pelo livro ser
narrado pela morte; confesso que não chorei, nem me descabelei como tantos
contam sobre sua experiência com o romance. Achei cru.
Porém, em
“eu sou o mensageiro”, a linguagem me surpreendeu. Gosto de livros narrados em
primeira pessoa, porque é um constante desafio acreditar naquilo que é narrado
por alguém tão intimamente ligado à história e também pelo exercício, sempre
muito difícil para mim, de gostar de passar tanto tempo dentro da cabeça de um
ser humano que não seja eu. E no caso desse livro, ai meu Deus, como foi
difícil!
Nosso narrador
é um babaca. Pronto, falei. Ele é um zé-mané, zero à esquerda, um coitado
perdido na vida. Tem 19 anos e não fez nada, não mora em lugar nenhum, não conhece
ninguém, não quer nada para si, nunca ficou com pessoa alguma que prestasse...
Assim, chegaria a dar pena se ele fizesse QUALQUER COISA para mudar sua
situação, mas ele é daqueles que irritam por serem conformados demais com sua
desgraça. E a linguagem retrata isso ao extremoooooo! Há ironia, preguiça,
repetições, descaso, violência... gente! A linguagem realmente reflete o
fulano.
Bom,
tudo vai bem verossímil até o momento em que o narrador recebe uma carta de
baralho com endereços e horários, como uma missão. Depois dessa carta, outras
seguem, sendo ele um suposto mensageiro que deveria levar até essas pessoas
desses endereços, pistas etc, uma ação, palavra, inspiração, que mudasse suas
vidas. Poxa, a ideia é boa, né? Um misto de drama, com investigação policial. Achei
bacana. Mas a verossimilhança foi pro ralo uma dezena de vezes. Porque, com
certas personagens, a tarefa é difícil, bem pensada. Já com outras... Dá
desgosto... Sério mesmo que só dar um sorvetinho pra uma mulher fará com que
ela mude completamente sua autoestima? Af.
Aí fica
pior no final. CUIDADO! SPOILER GRANDE!
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Terminar
o livro com eu não era o “mensageiro”, eu era “a mensagem”??? Mensagem pra mim?
Pra nós leitores? O que supostamente esse zero à esquerda poderia ensinar? Que,
se ele é capaz de fazer boas ações e mudar a vida dos outros, eu também sou? E
eu precisava de um livro inteiro com 300 páginas para me falar isso?
Francamente, doutrinagem explícita assim é covardia e desespero, que beira o autoajuda.
E falemos claramente: consciência social todo mundo tem, até o Baiano, dono no
morro, como já dizia o "Tropa de Elite".