sábado, 27 de dezembro de 2014


Abrasileirada

            Mas é lógico que todo teatro antigo tem que ter um fantasma. Em Fortaleza não poderia ser diferente. O Theatro José de Alencar é assombrado por uma fantasminha super fofa e com um motivo muito justo por nunca ter ido embora para o Lugar Melhor. De dentro dos porões cheios de fantasias velhas, cenários carcomidos e segredos escondidos, muitas aventuras surgem para a protagonista Anabela.
            O livro é infanto-juvenil, mas confesso que morri de amores e me esqueci da idade que tenho. A história é linda, escrita com uma linguagem ora irônica, ora apaixonada, que traz discussões com direito a “O que vai nos acontecer depois da morte?”, “O que vem primeiro: família ou amor?”, “Todo fantasma é malvado?”.
            A gráfica do livro é perfeita, com páginas todas decoradas com mosaicos bem coloridos ou com fotos do teatro municipal de Fortaleza. E não poderia ser diferente ao tratar de uma das muitas lendas que giram em torno da construção e das apresentações de um dos teatros mais lindos do Brasil. Há um certo clima de mito com passado histórico apimentado com paródia.
Tudo combina, tudo encaixa, inclusive as muitas vozes que narram o livro. Apesar de alguns dos focos narrativos não terem coerência alguma em estarem contando certa parte da história, porque não teria como mesmo aquela personagem ter ficado sabendo dos sentimentos particulares de outro fulano, tudo é perdoado pelo público de destino e pelos assuntos a serem discutidos na obra.

Adorei. Minha futura filha lerá, com certeza!
Escrito por Unknown Data: 12/27/2014 11:18:00 AM 2 comentários LEIA TODO O TEXTO!

terça-feira, 23 de dezembro de 2014


Tudo junto e misturado

            “Lua de larvas” para mim foi uma mistura de todas as distopias que já li ou que conheço por osmose – “Admirável Mundo Novo”, “1984”, “Jogos Vorazes”, “Divergente” e companhia. Seguiu meio que aquela receita de vó que pega tudo o que tem na geladeira, mistura numa frigideira e faz um super omelete que quase tem vida própria.
            Estamos em 1956, ano em que o homem supostamente pisou na lua. E é justamente sobre o termo “supostamente” que este romance quer tratar. Acompanhamos alguns dias na vida de um adolescente de 15 anos, num mundo destruído pelas guerras, sob um regime totalitário, abusivo, violento e pouco educativo. Apesar dessas estranhezas que são o que realmente prendem a atenção do leitor que gosta de fantasia, o que repercute no livro mesmo são as características da sociedade de hoje que sobreviveram ao massacre descrito no livro. Conflitos familiares, amor senil, bullying, homossexualismo, corrupção são os temas que imperam no livro, como que para mostrar que mudem os tempos, mudem os meios, o ser humano está fadado a resolver seus conflitos interno custe o que custar.
            É interessante ir descobrindo o ambiente pouco a pouco, conforme a personagem, que é bastante alienada quanto ao seu entorno, contexto político e sobre sua própria vida familiar, também o vai descobrindo. Tudo parece meio confuso no início, mas tudo vai se ajeitando e fazendo sentido ao longo da escrita. Não que a situação da personagem vá ficando melhor, mas o leitor vai se aconchegando à história e fazendo mais parte dela.
            As cenas escolares para mim são as que mais me marcaram, talvez por ser professora e viver nesse meio todo santo dia. Mas a violência corre solta ali. Num ambiente que deveria ser de compreensão e acolhimento, as mais ultrajantes atitudes de repressão, deseducação e manipulação ocorrem.
            Do que não gostei foi do tom a la mal-do-século romântico que o livro nas páginas finais. Mas ainda assim fez sentido para o extremo final (última página) escolhido pela autora.
            Mas as ilustrações bastante significativas, metonímicas e sarcásticas é que ganham o leitor. Eu, por exemplo, li desenfreadamente 190 páginas quase que sem parar só para poder saber como o desenho iria se desenrolar na página seguinte.

            O livro é um bom primeiro passo para quem quer se aventurar num mundo distópico.
Escrito por Unknown Data: 12/23/2014 06:44:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

De repente acabou o livro

            Comecei a ler Socorro Acioli por indicação de um canal literário; pesquisei um pouco sobre as premiações da autora – o que inclui um Jabuti -, sobre o curso que fez sobre escrita criativa com Gabriel Garcia Marquez e me encantei. A primeira obra com a qual tive contato foi “A cabeça do santo”, titulo promissor e totalmente compatível com a história.
            O livro se passa no sertão nordestino brasileiro e começa com uma daquelas descrições marcantes da pobreza a que nosso país é submetido sem que muitos de nós fiquem sabendo ou para a qual muitos fecham os olhos. Toda vez que eu tentar me lembrar de Samuel, é essa cena que me virá à cabeça. A descrição é verossímil, com os exageros devidos e permitidos pela poesia impermeada.
Vemos um homem em busca de vingança, pouco sabemos de sua história, mas já de cara o amamos pela seu carinho pela memória da mãe e o respeitamos por sua decisão racional, brusca e bem fundada em não crer em Deus. Poucos têm essa coragem e essa determinação em não temer a Deus.
O desenrolar da história é magnífico, as personagens são fiéis a seus caracteres e ao meio e condições a que são submetidas, tudo concorda entre si, tudo é surpresa ao mesmo tempo que faz todo o sentido e nos sentimos meio bestas por não termos previsto aquilo. O sobrenatural se mistura com o concreto, com a realidade do telejornal de todos os dias. E, quando vemos, só faltam 40 páginas para o livro acabar e você está pedindo “Por favor, acaba logo pra saber o que vai acontecer com o Samuel” ao mesmo tempo que implora “Não acaba não!”. E aí, para mim, a desgraça começou.

Bom, o livro tinha que acabar de alguma maneira, mas foi corrido demais. Sabe aquela sensação de que nos últimos 10 minutos de filme tem coisa demais pra acontecer e você sabe que não vai dar certo, ou aquele último capítulo de novela em que o bandido foge, volta, fica louco, vai preso, morre, umas sete pessoas casam, três têm filhos, um deles é gêmeo...? Pois é. Muita coisa ficou mal explicada. De repente tudo aconteceu, e tudo foi superficial demais, frio demais, perfeito demais, com coincidências demais. E na catinga ainda? Não. Com os pobres e marginalizados no nosso país a sorte nunca prevalece. Foi incoerente. Ainda mais pelo fato de ele não crer em santos ou mesmo em Deus. Talvez depois disso tudo Samuel devesse acreditar. Mas isso também não deu tempo de ser trabalhado.
Escrito por Unknown Data: 12/23/2014 05:11:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

domingo, 21 de dezembro de 2014


Coisas demais e espaço de menos

            Essa foi a sensação ao ler “Areia nos dentes”. O livro tem 110 páginas e se predispões a falar de tanta coisa em formatos inusitados que, quando cheguei ao final do romance, senti que algumas coisas foram superficiais demais, pouco exploradas, ou que não tiveram a conclusão merecida.
            Fiquei sabendo do livro por indicação de um vlog que sigo e decidi comprar o livro. Me arrependi logo nos primeiros capítulos. Entendi que o objetivo do escritor era acabar com os padrões de leitura homogênea, linear. Para isso, ele fez uso de metalinguagem, diagramação inovadora etc. Senti que entendi a piada no final, mas que achei que ela poderia ter sido contada de forma melhor.
            A apresentação é do Daniel Galera, um autor de quem gosto muito, e que logo nos surpreende dizendo que o livro é de um brasileiro, contando uma história de faroeste mexicano, com zumbis. Sério. Zumbis. Apesar de ambientação ser típica de faroeste, pouco de ação, confronto e tiros realmente acontecem. Os zumbis demoram muito para aparecer, não têm conclusão para suas ações e pouca descrição sobre suas fisionomias. O livro acaba sendo, na verdade, um drama familiar, que aparenta ser muito complexo, mas que não foi plenamente desenvolvido pelo número de páginas disponíveis.
            Esse drama se assemelha muito com “Cem anos de solidão” pelos personagens terem o mesmo nome nas diversas gerações familiares e por deus destinos e maldições se repetirem. Mas nada parece que vai pra frente, porque o autor quebra o sentimentalismo e reflexão das personagens com discussões metalinguísticas.
            A diagramação foi aquilo que realmente para mim teve saldo positivo, pois é inesperada, inovadora, engraçada e útil. Vale a pena por isso. Mas toda a história promissora que um título tão forte quanto esse prometia não foi bem pensada, na minha humilde opinião.
            Não gostei das personagens, de suas ações, de seus desejos. Tudo estava ou claro demais, óbvio - pela construção ou porque o narrador não se continha e expunha todo o mistério -, ou a trama não explicava nada, e muita coisa que ficasse para o intelecto do leitor.

            O que ficou do livro pra mim? A mensagem de que os mortos nunca realmente morrem. Os zumbis são mera metáfora personificada de que a memória daqueles que se foram nunca realmente se dissipa. Independente da quantidade de areia que se jogue por cima deles.
Escrito por Unknown Data: 12/21/2014 02:50:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


Historieta de muitas verdades

Sabe aquela sensação de já li isso em algum lugar? Tive isso duas vezes ao ler “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway. A primeira foi a mais absurda, quando já estava lá pela página 60 de uma novela de 110, pois me caiu a ficha de já tinha efetivamente lido este livro durante a faculdade. Mas só a presença dos tubarões tão justos em sua natureza e tão imorais frente à história me despertaram a atenção e a memória. Como podia ter me esquecido do sofrimento de Santiago?
Mas foi essa tristeza que me proporcionou a vida do personagem, sua obstinação em cumprir uma missão para ele já quase impossível, que o levou quase à morte, à loucura, que me fizeram sentir outro “click” na memória. Santiago por motivos diferentes e com menos intensidade esbarra no capitão Ahab. O primeiro persegue seu peixe quase ao esgotar de suas forças por honra, por fome, para manter a tradição, parasse provar, para perder o azar, para ensinar o menino, para calar a boca de todos aqueles que riam dele. O segundo ama e odeia sua baleia a tal ponto que todos os motivos nobres que servem a Santiago se tornaram pura e vazia obsessão.
Esse desejo do pescador em “O velho e o mar” é atenuado até pela linguagem utilizada, que lembra Graciliano. O personagem é pobre, velho, que ganhou educação da própria vida e que é mais voltada ao mar do que às letras. As frases do narrador são curtas, suas palavras são repetitivas, seus pensamentos são curtos – apesar de nunca rasos. A pequenez da linguagem transforma o que é loucura em um em necessidade ao outro.
Lindo livro. Com uma bela imagem do mar criada pelo autor. Deixo um trecho para os amantes de ambos.
“O velho pensava sempre no mar como sendo la mar, que é como lhe chamam em espanhol quando verdadeiramente o querem bem. Às vezes aqueles que o amam lhe dão nomes vulgares, mas sempre como se fosse uma mulher. Alguns dos pescadores mais novos, aqueles que usam boias como flutuadores para suas linhas e têm barcos a motor, comprados quando os fígados dos tubarões valiam muito dinheiro, ao falarem do mar dizem el mar, que é masculino. Fala do mar como de um adversário, de um lugar ou mesmo de um inimigo. Entretanto, o velho pescador pensava sempre no mar no feminino e como se fosse uma coisa que concedesse ou negasse grandes favores; mas se o mar praticasse selvagerias ou crueldades era só porque não podia evita-lo. ‘A lua afeta o mar tal como afeta as mulheres’, refletiu o velho.”


Escrito por Unknown Data: 12/15/2014 02:33:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014


Oh detetive, como sobreviverás?

Acho que os romances policiais estão perdendo sua essência. É visível que o gênero romance vem passando por mudanças cada vez mais nítidas para os leitores, mas não esperava que isso fosse chegar aos meus queridos detetives.
O foco dos nossos livros está cada vez mais nos indivíduos retratados do que nas ações em si. Machado já previa isso trazendo à luz a essência e ridicularizando o ato. Dostoiévski levou essa concepção a ferro e fogo criando uma obra de 500 páginas sobre quatro dias na vida de um neo-homicida que praticamente não sai de seu quarto. Até Harry Potter teve mais desenvolvimento individual frente a que a literatura infantil está acostumada. Não é à toa que livros de autoajuda andam bombando nas prateleiras. O ser humano está em crise e é preciso investigá-lo.
Mas fiquei me perguntando, enquanto lia o livro todo, como um romance detetivesco, policial, de aventura nato sobreviveria a isso. O nome do gênero já diz que o que importa é a investigação, a trama, o assassinato. O detetive não pode ser superior a isso. Sherlock Holmes nunca invadiu a esse ponto suas peças criminais; sim sabemos de seu arqui-inimigo, mas seus conflitos pessoais ficam onde devem: dentro dele, longe do mistério e do leitor. James Bond tem seus traumas de infância, mas que só começaram a aparecer com esse último filme que se passa na sua casa materna, ou seja, já na edição 178458912... Mas começar uma saga policial dando mais ênfase à construção do detetive do que do crime me frustrou.
Novamente te lembro, meu caro leitor, que isso são críticas pessoais de uma leitora que ficou honestamente triste por esperar uma trama inebriante e se deparou com um assassinato gratinado à la drama. Até a metade do livro só se sabe que uma moça morreu. Só. Todo o resto é a vida e frustração e tristeza e abandono e mutilação e família e pai rockeiro do detetive. Não. Não era isso que eu queria ler. A história não andava. Não senti aquela febre de não querer largar o livro pra saber quem era o assassino. Não percorri muitas páginas a fio achando que tinha lido só duas. Não rolou. Ponto.
A trama é boa. Mas a construção é longa demais. Tem muitas variáveis, mas nenhuma delas é consistente sozinha. Todas as pistas são pequenas demais. E todas as personagens suspeitas são cansavelmente parecidas. Todos ricos, metidos, sexualizados, drogados e que preenchem suas vidas miseráveis com dinheiro. Ou seja, todos eles são um só. Todos seriam possíveis assassinos. Ou seja, não faz a menor diferença no final quem matou a menina. Eca.
Ok. Há uma explicação plausível. Mas a personagem criminosa não me convenceu como esperava com seus problemas particulares. Sim ela tinha características passíveis de psicopatia, mas não ao ponto em que chegou a trama. Não precisava de tudo aquilo.

Saudades não muito “matadas” dos romances policiais porque esse não contou. Espero que a continuação da saga que, sim, vou ler, deixe disso já que agora seu até o número da cueca do Cormoran Strike.
Escrito por Unknown Data: 12/08/2014 09:14:00 PM 2 comentários LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014


Se tem um livro com final bom é esse!

Puts. Se tem um livro com final bom é esse! Que coisa sensacional! Desde que li a sinopse, sabia que o livro ia ser bom, mas não sabia que mexeria tanto comigo.
Li também num momento bem triste, portanto acho que as frustrações do jovem Colin casaram bem com meus traumas próprios. A atmosfera do livro contagia, primeiro, pela magia, engana pela musicalidade e poesias das cores descritas e das palavras inesperadas. Mas o livro vai se fechando, a história vai ficando cinza, branca, crua, e a linguagem não consegue mais esconder a dor, a raiva, a crítica.
Vemos uma flor, um amor, um sonho matar alguém. Na verdade, matar vários alguéns. Todos nesse livro começam esperançosos, com desejos – de conhecer o autor favorito, se apaixonar, se misturar à família, casar. E todos acabam mortos. Literal ou metaforicamente mortos. Os sonhos vazam. Escorrem. Assim como as cores e a luminosidade dos cômodos do livro. A atmosfera fecha, a narrativa fica truncada, as cenas se misturam, a casa se prensa.
Se você quer aprender o que é metáfora, aqui está uma boa cartilha. Livro lindo, em que homem e rato são a mesma coisa; em que aquilo que é belo mata; em que os amigos mais fiéis não o são; em que o gato e o rato, no final, sofrem da mesma maneira.
Ai... mal acabei e já estou com vontade de ler de novo.

Não dá para contar a história, porque dela se tira pouco. Mas as imagens... ai, que imagens. Sinto que jamais vou querer ver o filme disso. Quero ser simplesmente egoísta e tê-las apenas pra mim, em retinas drummondianas já fatigadas.
Escrito por Unknown Data: 12/01/2014 10:40:00 PM 4 comentários LEIA TODO O TEXTO!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014


Sério que tem gente que faz isso?
            
         Depois de muito namorar o livro em livrarias e quase comprá-lo, uma amiga linda se apiedou de mim e me deu de presente o “[manual prático de bons modos em livrarias]”, da Lilian Dorea.
O livro é um anãozinho, que dá pra ler num sentada na poltrona, porque além de ser em uma diagramação facilitadora, ter ilustrações, ser pequenino em páginas e tamanho mesmo, o assunto dele é hilário, o que facilita ainda mais a leitura.
O livro se trata de causos, de boas e velhas anedotas vividas um uma vendedora de livros dentro do seu ambiente de trabalho. Em certo momentos ela nos narra as decepções com os clientes e seus comentários esdrúxulos, em outros contra suas próprias gafes, depois tira regras de como agir numa livraria e do que NUNCA FAZER em uma.
Em certos momentos, ri alto, mais do que deveria, e EM PÚBLICO. Ai, coitada de mim.

Mas aí me lembrei de que uma vez li que o riso é sempre provocado pelo incômodo. E me preocupei. Será que tem gente que realmente age assim em livrarias? Será que eu um dia já agi assim? I wonder...
Escrito por Unknown Data: 11/26/2014 04:50:00 PM 1 comentário LEIA TODO O TEXTO!

terça-feira, 25 de novembro de 2014


Ressaca Literária
            Quem nunca?
            Pois então, eu acabo um livro muito feliz e decido começar outro mais ousado, aquele que estou enrolando faz pelo menos uns quatro anos para ler, porque é para o trabalho, um clássico do qual nunca gostei nem do resumo, mas que tenho que ler por orgulho próprio. Estipulei um prazo para a leitura e fui. E fui. E fui. Aí, ir passou a ser tão difícil. Aí, chegou um dia que não queria ir mais. Aí, arranjei mil desculpas para não relar mais nele. Aí, ... Gente. Empaquei. Fiquei um mês para ler 90 míseras páginas de um livros de 250. Qual livro? Não importa se você sabe o que é uma ressaca literária. Aquele momento em que nada que lemos parece ser bom, não há ânimo, curiosidade, tempo, nada. De repente ler virou um desgosto. E para um leitor obsessivo como eu, não há coisa pior. Talvez só dor de dente.
            No meu caso, eu estava lendo “Canaã”, do Graça Aranha. Livro que consegue misturar só o que há de pior nas descrições do Tolkien com o Alencar, sem, obviamente, os dramas amorosos do último e as aventuras cavalheirescas do primeiro. Ainda fui muito besta por querer ler um livro tão difícil assim em época de preparação de provas e correção das mesmas. Eu estava saturada de trabalho, com pouco tempo até pra dormir, a faculdade havia recomeçado depois de uma greve imensa, os preparatórios para o casamento estavam consumindo minha alma e a fofura aqui estava querendo ler “Canaã”... besta.
            Bom, aí fiz o que qualquer pessoa faria no meu lugar: pausei o livro e decidi começar outro para ver se desencalhava. Mas, DE NOVO, fui pensando no trabalho e decidir começar a ler “Regresso ao Admirável Mundo Novo”: livro maravilhoso, mas com capítulos gorduchos e ensaísticos. Com o pouco tempo que tinha, não conseguia ler um capítulo inteiro de uma só vez; aí era forçada a recomeçá-lo toda vez que pega o livro. Foi um inferno. Comecei a ficar brava. E não queria ficar brava com um livro tão bom. Parei também. Nesse interim já havia passado quase que dois meses.
            Resetei. Comecei um besteirol que havia comprado fazia uns meses pela sinopse. “O tango da velha guarda”. História promissora, capa bonita, nas estantes dos mais vendidos. Devia ser uma leitura leve pra me tirar desse momento de encalho. Mas NÃOOO. Nunca li nada tão enrolado, mal traduzido, com frases monótonas, mais análise psicológica do que o necessário, personagens fracos, inverossímeis... aveeee. Lia cinco páginas por dia e olhe lá! Até que fiquei uma semana sem ler absolutamente nada.
Definitivamente uma maré de azar.
Sintoma 1: Não conseguir terminar nenhum livro.
Sintoma 2: Começar muitos livros de uma só vez.
Sintoma 3: Achar tudo que se lê chato, cansativo, impróprio pro momento.
Sintoma 4: Levar muuuuito tempo para ler um único livro.
Sintoma 5: Não ter mais vontade de mexer na sua estante de livros a serem lidos.
Sintoma 6: Não ter mais vontade de comprar livros novos.
Sintoma 7: Deixar de acompanhar notícias em blogs, sites, vlogs sobre lançamentos, resenhas tags etc.
Sintoma 8: Cortar os pulsos.
Desespero. Como não sabia outra forma de sair dessa, fiz o que já vinha fazendo na esperança que desse certo: comecei mais um livro. E miraculosamente: FOI! Li inteiro. Feliz. Amando cada trecho. Nada como um livro infantil fofo. “A escola do bem e do mal”.
Curada. Quase dois meses perdidos. Três livros abandonados, sendo que pretendo voltar para apenas dois deles. Com medo.
HELP!
Se você tem uma receita mágica para curar ressacas literárias, favor compartilhar.

Bjos
Escrito por Unknown Data: 11/25/2014 10:14:00 AM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

terça-feira, 7 de outubro de 2014


Consciência social

Definitivamente este não é meu escritor. Markus Zusak já me deu muito trabalho para ler “A menina que roubava livros”, narrativa que me atraiu simplesmente pelo livro ser narrado pela morte; confesso que não chorei, nem me descabelei como tantos contam sobre sua experiência com o romance. Achei cru.
Porém, em “eu sou o mensageiro”, a linguagem me surpreendeu. Gosto de livros narrados em primeira pessoa, porque é um constante desafio acreditar naquilo que é narrado por alguém tão intimamente ligado à história e também pelo exercício, sempre muito difícil para mim, de gostar de passar tanto tempo dentro da cabeça de um ser humano que não seja eu. E no caso desse livro, ai meu Deus, como foi difícil!
Nosso narrador é um babaca. Pronto, falei. Ele é um zé-mané, zero à esquerda, um coitado perdido na vida. Tem 19 anos e não fez nada, não mora em lugar nenhum, não conhece ninguém, não quer nada para si, nunca ficou com pessoa alguma que prestasse... Assim, chegaria a dar pena se ele fizesse QUALQUER COISA para mudar sua situação, mas ele é daqueles que irritam por serem conformados demais com sua desgraça. E a linguagem retrata isso ao extremoooooo! Há ironia, preguiça, repetições, descaso, violência... gente! A linguagem realmente reflete o fulano.
Bom, tudo vai bem verossímil até o momento em que o narrador recebe uma carta de baralho com endereços e horários, como uma missão. Depois dessa carta, outras seguem, sendo ele um suposto mensageiro que deveria levar até essas pessoas desses endereços, pistas etc, uma ação, palavra, inspiração, que mudasse suas vidas. Poxa, a ideia é boa, né? Um misto de drama, com investigação policial. Achei bacana. Mas a verossimilhança foi pro ralo uma dezena de vezes. Porque, com certas personagens, a tarefa é difícil, bem pensada. Já com outras... Dá desgosto... Sério mesmo que só dar um sorvetinho pra uma mulher fará com que ela mude completamente sua autoestima? Af.
Aí fica pior no final. CUIDADO! SPOILER GRANDE!
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Terminar o livro com eu não era o “mensageiro”, eu era “a mensagem”??? Mensagem pra mim? Pra nós leitores? O que supostamente esse zero à esquerda poderia ensinar? Que, se ele é capaz de fazer boas ações e mudar a vida dos outros, eu também sou? E eu precisava de um livro inteiro com 300 páginas para me falar isso? Francamente, doutrinagem explícita assim é covardia e desespero, que beira o autoajuda. E falemos claramente: consciência social todo mundo tem, até o Baiano, dono no morro, como já dizia o "Tropa de Elite".
Escrito por Unknown Data: 10/07/2014 01:50:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

Devia ter ficado “O Pássaro Mecânico”
            
               O livro é raso para um adulto, mas na medida certa de profundidade psicológica, fantasia e descrições para uma criança - público alvo do romance.
            O enredo trabalha desde o início com um conflito familiar cada vez mais normal em nossa sociedade: pais despreparados para terem filhos, que só cumprem a função social de tê-los e depois o abandonam aos empregados da casa ou à escola para criá-los. Os textos de Geraldo Tite Simões sobre o trânsito, o tigre e o menino, que analisa o comportamento social das nossas famílias e da nossa formação moral a partir do nhac que o menino levou do tigre no zoo de Cascavel; ou o vídeo do “Porta dos Fundos” dessas últimas semanas, sobre o filho de cinco anos estar dopado de tudo quando é remédio popular hoje entre os psiquiatras, liderando uma gangue sequestradora no colégio, enquanto os pais culpam a escola pelas atitudes da crianças, são pequenos exemplos do quanto precisamos discutir essa problema.
            “Voos e sinos e misteriosos destinos” trata justamente teste tema, graças a Deus. Acompanhamos a narrativa do ponto de vista da criança, o pequeno Jack, que, apesar de jovem, já tem total consciência se seu abandono, o que frustra o leitor, que sofre com o menino.
            Mas para que a narrativa não se tornasse pesada demais, a autora inseriu esta temática dentro de um mundo paralelo ao da nossa Londres do século XIX durante sua Segunda Revolução Industrial. A cidade para onde o menino é transportado é mágica, o que camufla um pouco a discussão, mas na medida certa, e acrescenta nova crítica: os efeitos da poluição e mecanização sobre as pessoas: robôs substituem filhos, e máquinas substituem órgãos danificados pelos ares não mais respiráveis.
            Nesse novo mundo, Jack tentará substituir sua mãe por uma rainha um tanto peculiar, mas para isso terá que abandonar seus amigos que ali criou – a família que já havia conquistado, mas que não soube ver – e disputar seu lugar de filho com o vilão da história.
Nesse contexto de máquinas, enforcamentos, venenos e traições, Jack aprenderá a distinguir os amigos de verdade, a definição de família e também a sentir falta de seus pais. Jack passa a entendê-los, um pouco, o suficiente para querer voltar e para assumir seu papel de herdeiro de uma grande fortuna, mas agora com a consciência de que a mudança em relação à sociedade e à família deve partir dele. Toda essa esperança de melhora é personificada pelo Pássaro Mecânico - título original do manuscrito do livro e que deveria ter sido mantido pela autora –, um misto de lenda e salvação, que trará mais mistérios para a história.

Outro livro com total predisposição para virar filme ou animação. E também outro a ser trabalhado nas aulas de história, para discutir uma revolução massificadora, industrial e fria, que nos torna cada vez mais produtos dela do que seus criadores.
Escrito por Unknown Data: 10/07/2014 11:46:00 AM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

domingo, 14 de setembro de 2014


Por que ainda não fizeram uma animação?

   Acho que essa pergunta resume a resenha inteira. Gente do céu, esse livro tem cara de filme/animação/desenho a ser feito para crianças. Do início ao fim. Em quesito divisão de cenas, flashbacks, descrições e tema, isso aqui é mais um roteiro que um romance. E confesso que gostaria de assistir à animação desse livrinho.
   “Rumo aos anéis de Saturno” pretende contar a história de Art, nosso narrador, e de seus amigos e familiares numa aventura interplanetária contra monstros malvados em forma de aranhas albinas. Sei que parece ruim, mas é bom.
   Confesso que o autor pecou nas descrições, porque, se ele vai criar um universo inteiramente novo, com alienígenas, mundos, comidas e cheiros que nunca sentimos ou vimos, ele precisaria ter se esforçado mais para nos fazer realmente entender tudo aquilo. Mas a aventura prevalece e entendo seu descaso em perder tempo narrando seres que não tinham tanta importância assim – e haja seres novos, porque a cada página ele cria mais e mais coisas, que chega uma hora que você simplesmente desiste de guardar os nomes e acompanhar a narrativa – e descrevendo em detalhes cenas que são ricamente ilustradas em figurinhas pequeninas ou gigantes ao longo de quase todas as páginas.
   Bom, o livro segue mais ou menos a ideia de “A cidade e as serras”, porque, apesar de nosso narrador ser personagem, ele não parece ser o protagonista. Ele passa mais tempo descrevendo sua idolatria pelo pirata juvenil Jack do que contando o que sente e o que faz. Acho que Art não gosta muito de si mesmo quando comparado ao garoto descolado, divertido e corajoso e independente e bonito e e e e ... que é Jack. A gente saca o ciúme sem pensar duas vezes. Achei essa característica um tanto quanto fofa, porque nosso narrador realmente não teria como ter todas as qualidades de Jack tendo o pai bobão do jeito que ele tem, que só o ensinou botânica e zoologia espacial e mais nada. Mais fofo ainda fica quando Jack se apaixona pela irmã de Art, Myrtle. Como todo bom irmão, o  narrador detesta sua irmã mais velha e não vê nada nela de atrativo e fica tão mais tão bravo com o romance dela com Jack que honestamente não sabemos se essa braveza é por ciúmes do pirata ou de Myrtle.
   Achei o livro uma grande paródia do nosso processo colonizador que se estende não apenas às colônias americanas, mas a outros planetas e luas. Um professor de história do fundamental se valeria deste livro facilmente para tratar das Grandes Navegações, descobertas científicas do Iluminismo e da questão do preconceito contra raças consideradas inferiores por um darwinismo social imoral, já que ele mistura personagens e marcos históricos à ficção.

   Gracinha de livro.
Escrito por Unknown Data: 9/14/2014 11:37:00 AM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

domingo, 7 de setembro de 2014


Ode à loucura

O livro “Holocausto Brasileiro” veio parar em minhas mãos por uma indicação indireta. Um amigo, professor também de literatura, indicou este livro ao meu noivo, que, por sua vez, falou dele para mim... assim... lá fui eu. Achei a proposta do livro extremamente interessante e não demorei 10 dias para já adquiri-lo.
Confesso que fiquei ainda mais empolgada, ironicamente, quando um amigo meu, oriundo de Barbacena, me contou que a mãe havia trabalhado no manicômio referido no livro. Ele diz se lembrar vagamente de ter conhecido um ou outro interno que ia jantar com a família dele nas noites de Natal, pois a mãe por carinho e piedade os convidava.
Fiquei intrigada com esse horror e mais intrigada ainda com a nossa curiosidade humana em estudar as piores tragédias. Estranho esse sentimento que nos atrai para a violência. Acho-o ainda nem de todo ruim, pois é só conhecendo a violência que a repudiamos, que a condenamos e que tentamos impedir que ela aconteça de novo - talvez um pouco na mesma linha da Comissão da Verdade -, mas fiquei com um pouco de medo de mim mesma.
O livro se propõe a narrar a história de um dos mais famosos manicômios do Brasil, o grande hospício de Barbacena, localizado em Minas Gerais, na cidade hoje conhecida como o município da loucura, por conta das diversas casas de recuperação que recebeu ao longo da história brasileira. Ele funcionou por mais de 70 anos como um local de torturas, de animalização, de experimentos, muito mais do que de reabilitação de seus internos.
A tese da pesquisa é comparar o tratamento dado a esses pacientes, com o destinado aos judeus e outros grupos durante o surto nazista. O primeiro argumento se vale da seleção desses internos, que muitas vezes nada tinham de loucos, eram apenas pobres, negros, mulheres que engravidaram antes de casar ou que lá foram aprisionadas por seus maridos para que estes pudessem viver com suas amantes, crianças indesejadas, bêbados, ou simplesmente pessoas que não se encaixavam nas normas sociais por serem tristes demais. Ou seja, o mesmo preconceito nazista, que matou tantos grupos simplesmente por não seguirem as regras consideradas por uma minoria as corretas, ocorreu em Barbacena. O segundo argumento se refere ao tratamento bestializante dado aos pacientes, que passavam frio, fome, dormiam amontoados, faziam trabalho forçado para que outros lucrassem, além de servirem de instrumentos a pesquisas de psicologia e, depois de mortos, de peças para as faculdades de medicina da região.
O livro é repleto de fotos chocantes, reveladoras e de nomes de pessoas que tentaram ajudar a acabar com esse sistema repugnante, de deputados a Foucault, de funcionários do estabelecimento a ex-internos.
Mas a linguagem não me agradou. Um, há vários erros gramaticais no livro que deveriam ter sido revisados. Dois, sei que é uma jornalista narrando uma história e que ela deveria se manter sempre objetiva, mas, sério, tem outro lado a ser defendido? Acho que ela poderia sim ter sido menos fria, pois sua voz narrativa soou como indiferente, o que me incomodou ao extremo. Terceiro, o espaço e as personagens não foram apresentados com a devida importância que mereciam. Não se consegue imaginar o ambiente, porque ele mal foi descrito, não se sabe quantas alas havia, onde ficava a cozinha, sala de banho, pavilhão infantil; não há mapa, descrição, desenho, nada. A autora ignorou a arquitetura do lugar, o que dificulta o entendimento de algumas cenas narradas por ela.
Sem contar que a impressão geral que tive foi de um livro escrito com pressa, como um Frankstein de crônicas e outros relatos já feitos por ela que foram juntados e alinhavados sem fazer muito sentido juntos. Não há começo, meio e fim. Há cenas justapostas e confusas.
Parece que ela sabia tanto sobre o lugar que não conseguiu selecionar o que contar, ou que foi obrigada a diminuir o espaço e teve de suprimir partes importantes. A maioria das cenas são superficiais, não há aprofundamento de ação, personagens, descrições, crítica. Nada. Há cenas mal contadas, cruas, frias; outras repetidas; há personagens que somem e reaparecem nos causos sem propósito estético e argumentativo algum.

O livro tem o mesmo formato de “Estação Carandiru” ou “Carcereiros” de Dráuzio Varela, mas não a mesma qualidade. Senti que o tema foi estragado, diminuído pela insensibilidade da escrita e pela construção despropositada do livro. Mas ainda a leitura vale muito a pena.
Escrito por Unknown Data: 9/07/2014 01:55:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!

sábado, 6 de setembro de 2014


“Sabrina” ou “Crepúsculo”?

Minha resposta talvez seja: os dois juntos e misturados. A Saga “Cinquenta Tons”, pelo menos nos dois primeiros livros, nada mais é do que o relacionamento obsessivo de Bela e Edward regado a sexo. Confesso que não estou nem um pouco animada ao escrever esta resenha, pois só tenho análises negativas a dar.
O primeiro tópico, e o que mais me incomodou, foi o vocabulário. Este é extremamente limitado, tanto nos diálogos, nas descrições sentimentais da narradora, quanto na narração das cenas sexuais. Sério. Quantas palavras existem no mundo para nomear a relação sexual? Ou os órgãos genitais? Ou as posições, carinhos, apetrechos...? Sério. Sexo é uma das indústrias que mais movimenta dinheiro no mundo e está presente na literatura, filmes, séries, escola, alimentos, roupas... meus Deus! Como a autora não se vale desse conhecimento adquirido na TV aberta para enriquecer o livro???? Não faz sentido uma cena sexual sadomasoquista ser narrada com uma linguagem ineficiente e puritana. E os diálogos, então? Idênticos. Parece que ela criou epítetos, igual nas epopeias antigas. Só que na Grécia a repetição era necessária pela questão rítmica da escansão e não por falta de criatividade. E a frustração não para por aí, porque a relação dos dois é apresentada com vocabulário de um amor infanto-juvenil: cansativo, piegas, idealizado e CANSATIVO.
Apesar disso tudo, a escolha do tema foi inteligente sim. Primeiro, pelo dinheiro, lógico. Que tema melhor que o sexo para atrair público consumidor? Segundo, pela complexidade. Se trabalhado direito, o tema pode acrescentar muito na vida de uma pessoa, pois envolve pressões sociais, psicologia, dinheiro, autoestima, educação e lá se vai a lista... mas nada foi abordado. Nada. Crítica número 1: sadomasoquismo pode ser considerado um estilo de vida, não precisa ser causado por traumas, necessariamente. Mas não, a autora o condena do início ao fim e o embasa no contexto mais obvio possível: abuso sexual na infância. Jura? Não é só violência que gera violência. As causas são múltiplas para um comportamento como esse, inclusiva a livre escolha. Crítica número 2: a combinação de uma menina com baixa autoestima com um homem abusado e sadomasoquista é explosiva e não foi abordada em nenhum momento!!! Foi ridicularizada porque ambos agem de maneira oposta. Ela se torna a dominadora e ele o dominado. Como assim? Com base em quê? Nenhum dos dois nunca teve um relacionamento na vida? Como podem passar da água pro vinho em 15 dias – sim, é isso que leva pra eles anunciarem o casamento -?
Acho que quando a autora se deu conta de que narrar apenas cenas de sexo não ia dar três livros, muito menos quando a maior violência descrita por ela dar tapinhas do bumbum, ela resolveu criar uma trama misteriosa, de vingança e aventura. Mas sua competência para isso é idêntica a de descrever a relação sexual dos dois. Tudo é raso, óbvio e previsível.

Ruim. Muito ruim. Aiaiai que ruim. Me recuso a ler o terceiro. Ponto.
Escrito por Unknown Data: 9/06/2014 08:21:00 PM 4 comentários LEIA TODO O TEXTO!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


A hora da vingança

O Livro “Naufrágios” veio parar nas minhas mãos como uma indicação de uma pessoa muito querida que, além de me encantar com a breve sinopse que me deu, ainda me emprestou o livro e o discutiu comigo.
O livro conta a história de Isaku, menino de 10 anos, que mora em uma vila muito pobre do Japão situada no litoral, fato que os induz à pesca – sua fonte de sobrevivência já que as terras são inférteis no geral. Todos lá são muito pobres, inclusive a família de Isaku, por isso é comum que membros se vendam sob contrato de servidão a vilarejos vizinhos, o que acontece com o pai do menino, por ser muito forte e por isso conseguir muita comida para a família em troca dos três anos que passaria trabalhando. É justamente esse o tempo de narrativa do livro: os três anos que esperamos esse pai retornar para salvá-los da miséria, enquanto Isaku luta por cumprir a promessa feita a ele: manter a família viva.
O menino crescerá muito nesse período de tempo, aprenderá a pescar, a prover, a amar, a ser homem e a entender os grandes mistérios que circundam sua aldeia. O principal deles diz respeito a um ritual religioso, feito todo ano no inverno, para atrair um milagre mandado pelos deuses, o o-fune-sama. Esse evento se refere a naufrágios de navios nos corais que rodeiam a praia onde fica o vilarejo. Ou seja, todos constantemente rezam para que um navio afunde, pessoas morram para que as mercadorias possam ser roubadas por eles para poderem sobreviver. E essa é a grande discussão do livro: o eu X o outro; quando a minha miséria é tão grande que me faz desejar a desgraça do próximo para que eu possa sobreviver. Esse nada mais é do que o nosso conceito mais intrínseco de animalização.
E tudo sob a liderança de um ancião que interpreta as vontades dos deuses, ou seja, o povo ainda acredita que faz isso por vontade de divindades e que a morte dos outros nada mais é do que cumprir a vontade dos deuses. Os habitantes até chegam a se valer de estratégias para atrair os navios para os corais. Portanto, ao longo do livro todo, fiquei intrigada com o modo que o escritor puniria – pois isso tinha de acontecer - o povoado por tais atos e os elucidaria sobre seu egoísmo e cegueira moral. Mas só o primeiro ocorre.
Fiquei encantada com o modo de mostrar a passagem do tempo pelo narrador. Nos primeiros capítulos, aprendemos tudo sobre a pesca de polvos, sardinhas, extração de casca das árvores, fluxo de libélulas e cores da montanha; para depois o narrador se valer desses elementos para nos mostrar quando chega a primavera ou quando a temporada de o-fune-sama está para começar. É lírico, ao mesmo tempo que sábio, ao mesmo tempo que revelador do primitivo.
E por falar em primitivo, temos a sensação de que tudo ocorre numa época muito anterior a nossa, pois ainda há clãs no Japão e quase não se fala sobre dinheiro, como se a sociedade fosse constituída com base no escambo. Portanto imaginei que o período fosse algo como a nossa Idade Média ocidental.
Porém mais do que isso se aprende com o livro. Me choquei, ao mesmo tempo que me inspirei, com as lições sobre educação e família. Primeiro que tudo no livro é justificado com obediência, que passa pela familiar, educacional, basal – que nos falta tanto aqui em terras brasileiras -, e depois pela cega, que os leva a seu destino punitivo. Sobre a primeira, não consegui conter meu ridículo julgamento de valor em achar cruel o modo como a mãe trata seus filhos: de modo seco, sem afeto e sempre rígido, mas que os engrandece e os torna mais preparados àquele tipo de vida, meio à la Fabiano de “Vidas Secas”.
Adorei também como Isaku, mesmo sendo franzina, baixinho e magrelo, aceita seu condição em comparação aos demais colegas. Não há bullying por parte dos amigos, nem depressão por parte do menino por não se encaixar, nem violência latente. Há aprendizado. Isaku se espelha nos colegas para tentar ser melhor e se auto-construir. Não busca competição, ou vingança ou cortar os pulsos, como muitas das nossas literaturas nos incitam hoje em dia ao menor sinal de fraqueza, diferença ou rejeição. O menino se torna, só nessa cena, muito melhor do que muitos de nós juntos.

Há descrições que beiram o naturalismo, ao mesmo tempo que são mescladas com a ingenuidade infantil sobre o sexo, que é permeada pelos ensinamentos culturais; tudo dentro de uma linguagem acessível, lírica que se faz sozinha, como que brotando no livro linha a linha.
Escrito por Unknown Data: 8/25/2014 08:34:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!


Bienal do Livro – 2014

Bom, fui à Bienal no susto! Tudo estava programado para acontecer no segundo fim de semana, correspondente aos dias 30, 31, mas, por forças maiores do destino... não deu. Fui dia 23.
Não queria passear pela Bienal no primeiro fim de semana por dois motivos: 1. pois sinto que é o momento mais cheio dela, porque ainda é novidade e tudo pode ser visto e comprado em primeira mão; 2. porque no sábado muitas escritoras famosas estariam lá e causariam (como causou) uma muvuca assustadora ao passantes distraídos – leia EU.
Meu objetivo com a Bienal não é acompanhar as palestras e falas dos autores, editoras e bloggueiros, mas sim passear, ver lançamentos e pegar promoções que nunca mais encontrarei. Nada contra os palestrantes, magina, mas é que tudo é muito desorganizado. A distribuição de senhas é injusta, há muito mais gente que espaço, o áudio é terrível e me parece que o evento é feito exclusivamente para vender e não para ensinar. Então, já que não posso lutar contra isso, abracei a ideia e fui gastar dinheiro em livros. Deixo as palestras para a Flip.
Mas, primeiro, eu tinha que conseguir entrar! Mas como não havia me preparado: tive que comprar o ingresso no local. Meu Deus! Que perrengue. Mais de uma hora de fila, debaixo do sol, com zig-zags que matam quem tiver labirintite, mas entrei. Por isso:
DICA 1: Compre os ingressos pela internet com antecedência e evite filas.
Assim que cheguei, encontrei um grupo de alunas lindas que já me indicaram umas promoções sensacionais e me situaram quanto à dificuldade de passar cartão de crédito e sobre a localização de algumas editoras que queria visitar. Por isso:
DICA 2: Arrume um mapa da localização das editoras, porque ficar caçando no meio da galera não vai rolar e nem sempre você tem alunas fofas como eu – estou me gabando porque elas são xuxus mesmo.
DICA 3: Leve dinheiro em espécie. O sinal lá é horroroso e as máquinas de cartão param de funcionar o que só aumenta a fila que já é maior naturalmente. Sem contar que muitas promoções se referem apenas a compras em dinheiro.
Bom, minha meta era entrar na Zahar, comprar a edição capa dura de “Os Maias” e ir embora feliz gastando 5º reais. Não rolou, porque quando vi as bancadas de livros a 10 reais cada, não resisti. E comprei alguns – 5 pra ser sincera.
Depois passei por várias editoras menores, conheci nomes de autores novos, edições bem bacanudas e consegui efetivamente mexer nos livros por conta do público ser menor. Por exemplo, não consegui entrar nem na Saraiva, nem na Record por conta da superlotação – eles impediram a entrada (?).
Nesse passeio, descobri que, por ser professora, tinha descontos muito bons para mim o que ajudou MUITO na compra de muitos livros. Portanto:
DICA 4: Se você for professor, bloggueiro, da imprensa e afins, cadastre-se antes na portaria/internet para obter entrada mais rápida, às vezes de graças, e desconto nos livros.
Aí, resolvemos comer.
DICA 5: Não coma na Bienal. Comida cara, ruim, demorada, mal feita, sem lugar pra sentar e com muita sujeira a seu redor. Os coitados dos serventes não dão conta do lixo produzido, nem os cozinheiros dos pedidos. Sério. Não valeu a pena o hot-dog só de salsicha e batata palha que comi, que mais melecou todo o espaço do que encheu minha barriga. Ah... isso me leva a:
DICA 6: Não beba. A fila do banheiro era quase do tamanho a da entrada. Eles realmente não querem que você faça xixi lá.
Finalmente cheguei à Zahar. E estava super feliz até perceber que ela e a Cia das Letras estavam unidas no mesmo estande – DIVIDINDO O MESMO CAIXA!!!!! -, oi? Sério mesmo? As duas maiores editoras dividindo estande, dificultando tráfego, pagamento, organização dos livros, atendimento de funcionários... foi um caos. Havia sim promoções boas, mas que só compensaram a fila de 1h40 porque eu tinha tempo de sobra. Lá, frente a tantas tentações, desisti de comprar “Os Maias” e dei prioridade para novos livros – uns 6. Só aproveitei aquilo que estava barato mesmo ou que nunca mais ia achar ou me lembrar do nome, porque certas coisas a feira da USP, que ocorre no fim do ano, oferece com melhor qualidade e menor custo.
Mas aí eu já estava carregando 17 toneladas de livros e meu noivo também e comendo açaí ao mesmo tempo, passando calor e na muvuca... aí... aí... cansei.
DICA 7: Leve uma mochila, porque as sacolas dadas são péssimas - a não ser a da editora Unesp e a da Cia das Letras –, o que vai facilitar sua locomoção.
Visitei outros estandes com muita rapidez, pois já era mais de nove da noite e eles estavam nos expulsando. Sinto que faltou ver muita coisa, mas estou sem pique de voltar ao furor 25 de março dos cultos. Vou guardar meu rico dinheirinho para a feira da USP.

Saldo do dia:


   
   1.      Rumo aos anéis de Saturno
   2.     Voos e sinos e misteriosos destinos
   3.     A elegância do ouriço
   4.     A vida secreta das abelhas
   5.     A invenção das asas
   6.     A insustentável leveza do ser
   7.     Saramago – Biografia
   8.     A vida secreta dos grandes autores
   9.     Só perguntas erradas 1
   10.  Só perguntas erradas 2
   11.   Mariah Mundi – A caixa de Midas
 12.  Mariah Mundi – Os diamantes fantasmagóricos
 13.  Mariah Mundi – A nau dos insensatos
   14.  MUITO CANSAÇO!!!! Por isso:



DICA 8: Vá de tênis e leve um RedBull.
Escrito por Unknown Data: 8/25/2014 07:59:00 PM Comente! LEIA TODO O TEXTO!
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